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Sendo costume dos homens mais advertidos e curiosos, que por qualquer causa fazem viagem, o escrever as memórias delas, me pareceu bem seguir o seu exemplo e dar princípio a minha jornada de Lisboa a Itália, apontando os sucessos delas.
Padre D. Manuel Caetano de Sousa, Viagem de Itália e Espanha, 1709, fl. 1
De 11 a 13 de novembro vai ter lugar em Cluj Napoca o congresso internacional Bajo el signo de Mercurio: ciudades, espacialidad y viajes de la Edad Media hasta el siglo XX. Quando vi o título não pude deixar de sorrir, porque eu própria já dei este título, em português, a um artigo meu publicado no suplemento da Colóquio Letras de 2011 (Siglo de Oro: Relações hispano-portuguesas no século XVII. Suplemento de Colóquio Letras): “Sob o signo de Mercúrio: jornada de Roma”, pp. 128-138.
Juntando todos estes aspetos, a minha intervenção, “El tiempo de la ciudad: Roma en las narrativas de D. Manuel Caetano de Sousa, del Padre João Baptista de Castro y Frei Joaquim S. José”, terá a seguinte ordem de ideias:
As narrativas de viagens e as descrições de Roma enquadram-se num panorama vasto que engloba questões relacionadas com a peregrinação religiosa, com a diplomacia e com a educação artística. Estas mesmas condições adequam-se a esta produção de literatura de viagens em Portugal, acolhendo de forma mais especial narrativas como as do Padre João Baptista de Castro e de Frei Joaquim de S. José.
Neste trabalho pretende-se focar a implicação que o tempo de permanência na cidade tem na elaboração destes documentos, ou seja, como a viagem, a vivência, a permanência e os objetivos da deslocação, constituem circunstâncias que determinaram o diferente tipo de relato construído pelos autores. Pelas suas circunstâncias específicas, constituem dois relatos essenciais no quadro de um género pouco abundante, e sobretudo pouco divulgado, mesmo nos séculos XVII e XVIII, quando foram produzidos.