O António Manuel sabe que o tema desde colóquio, “metamorfoses da santidade”, não me passaria nunca ao lado. Por muitos motivos, mas sobretudo pelas simpatias da alma que me ligam à literatura espiritual barroca, que constitui um vasto manual para esse estado de conformidade entre a vontade do homem e a vontade de Deus. Contudo, há nestas “metamorfoses” um índice de erosão e de subversão que muito me seduz e que tem a ver com o grau de felicidade quotidiana e interior que nos aproxima de uma beatitude que nos põe de bem com o mundo e em paz com os outros, mas sobretudo conciliados com a nossa própria fragilidade. Há nessa impressão, fugidia e efémera, apesar de real, uma parte substancial de perfeição, tendo em conta a raiz da palavra (perfacio), que nos parece transcender a nossa dimensão humana e aproximar-nos de algo maior, além da contingência da vida e da morte. E daí nasce a sua dimensão religiosa e as diversas conformações de que se reveste.
Nesse sentido de perfectio, de completude, se compreende o leitmotiv do pontificado do Papa João Paulo II, que repetiu inúmeras vezes “não tenham medo de ser santos”. Colocava a santidade no dia a dia, na luta constante que cada homem vive, nas conquistas mínimas, nas opções tomadas com dificuldade, nos amargos de boca, no abrir do coração à vida. Este sentido quotidiano, para além de outros aspetos que devem ser também considerados, não é uma marca específica da literatura espiritual barroca, onde o percurso para a santidade ganha contornos quase épicos e heroicizantes, mercê das grandes alegorias, de peregrinatio et magnae pugnae, que o compõem. Mas se não é quotidiano na aparência e no discurso retórico, é definitivamente um processo levado a cabo ao longo das horas, dos dias, da vida humana. (…)
Dia 20 de Junho, Universidade de Aveiro.
Lindo!!!!!!Beijinhos minha querida!!!
Ias gostar de ouvir, mamã. beijinho, querida.