Mal fora iniciada a secreta viagem
um deus me segredou que eu não iria só.
Por isso a cada vulto os sentidos reagem,
supondo ser a luz que deus me segredou.
David Mourão-Ferreira
“Inscrição sobre as ondas”, em A secreta viagem.
Que as manhãs tenham orvalho. Que o chão esteja seguro quando eu pousar os pés ao levantar-me. Que a água quente me aqueça o corpo ao começar o dia. Que o melhor na mesa seja o pão fresco com manteiga . Que o café esteja doce. Que o aperto de mão do Sr. Valdemar seja tão forte como sempre. Que a vontade de sorrir se mantenha. Que o bom dia me saia forte e convincente. Que eu fale um pouco de poesia ou de romance. Que eu trabalhe mais uma fotografia, apenas uma que seja. Que eu veja como o dia brilha. Que a serra me pareça cada vez mais alta e o céu mais perto. Que o rio me acalme. Que os beijos do Jaime me aqueçam o coração (isto é a parte pelo todo…). Que o manuscrito me desafie. Que o cheiro do louro e do azeite me encha de fome. Que a memória de um longo abraço me acompanhe.

Perguntavas pelo que há de bom na vida?
Ainda vou só no início.
Nota: obrigada, Rute, pela fotografia, pelo que ela representa de vontade de respirar, de viver, para além das contingências do dia a dia. Um abraço, maninha.
Que grande foto!