Belleza

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Finisce sempre così. Con la morte. Prima, però, c’è stata la vita, nascosta sotto il bla bla bla bla bla. È tutto sedimentato sotto il chiacchiericcio e il rumore. Il silenzio e il sentimento. L’emozione e la paura. Gli sparuti incostanti sprazzi di bellezza. E poi lo squallore disgraziato e l’uomo miserabile. Tutto sepolto dalla coperta dell’imbarazzo dello stare al mondo. Bla. Bla. Bla. Bla. Altrove, c’è l’altrove. Io non mi occupo dell’altrove. Dunque, che questo romanzo abbia inizio. In fondo, è solo un trucco. Sì, è solo un trucco.

 

 

Acho que nunca li tantas apreciações contraditórias sobre um filme como sobre este. Foi a crónica do Correio Beirão, nº 10.

 

A grande beleza

Voyage au bout de la nuit foi o livro de estreia de Céline, publicado em 1932, e dele são as palavras que iniciam La Grande Belleza (2013), realizado por Paolo Sorrentino, colocadas em epígrafe no livro e no filme. E as palavras são justas, reinterpretadas por Jep Gambardella em diversas cenas. Dizem que a viagem é útil porque faz trabalhar a imaginação, sendo que tudo o resto não é mais que deceção e cansaço; que a nossa viagem é inteiramente imaginária e essa é a sua força; vai da vida à morte e tudo – homens, animais, cidades e coisas – tudo é imaginado, como se fosse um romance, uma história fingida; e além disso todo mundo pode fazer o mesmo, basta fechar os olhos. É logo ali, do outro lado da vida. Consigo imaginar a voz de Toni Servillo a dizer isto… com a mesma voz com que fala de si mesmo, isolando-se subitamente dos gestos lascivos e outros ruídos da festa que celebrava os seus sessenta e cinco anos.

O filme é sobre “a grande beleza”, sobre a imagem da vida enquanto procura, viagem, memória e imaginação. Jep Gambardella joga com a verdade e o fingimento, entre a sinceridade interior e aparência formal. Se a vivência exterior é um jogo social, por dentro só é possível existir a verdade. Por isso, entre os gestos estudados e enfáticos, Gambardella interpela e põe a nu a inconsistência e o engano. Não é diferente, nem é melhor do que os outros; apenas parece ter, agora que está velho (como confessa a Ramona), mais tempo para ver, pensar e distinguir, juntando experiência e memória com lucidez e ternura. Consciente da passagem do tempo, da transformação que ele opera na sua vida e na vida dos outros, mais do que contar uma história, o filme desenha o reencontro de Gambardella consigo mesmo, insistindo na verdade e na beleza, não deixando de lado as incoerências de um rei dos “mundanos”, sendo que qualquer uma das teses apoia a sua determinação de não perder mais tempo a fazer coisas que não quer fazer.

O final do filme rasura o ruído, esse bla, bla,bla asfixiante, e penetra no silêncio, na história individual, na memória, nas emoções e sentimentos, sobretudo o medo, tudo aquilo de se faz a vida. Debaixo de tudo isso estão os caprichosos caminhos da beleza, logo ali, do outro lado da vida. Basta fechar os olhos… sim, no fundo é só um truque.

la-grande-bellezza cartaz

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