O estudo da literatura de viagens no contexto da literatura portuguesa tem sido ocupado quase exclusivamente com a literatura produzida no âmbito da expansão ultramarina, abrangendo diários, relatórios, relações, relatos, roteiros, cartas, todo uma produção capaz de fazer a história dos descobrimentos portugueses desde o extremo Oriente até ao sertão do Brasil. O prolongamento desta literatura pelo século XVII e XVIII adiante foi feito sobretudo pelo recurso aos relatos de naufrágios, realçando a narrativa de aventuras por mares inóspitos, a espectacularidade do desastre marítimo e a visualização do sofrimento e do heroísmo.
Isto significa que uma percentagem significativa da literatura de viagens, neste caso não só as viagens a Roma mas também as viagens pelo resto da Europa, foi esquecida desde muito cedo por não corresponder a uma tipificação estabelecida pela viagem ultramarina. Este facto torna-se evidente quando verificamos a quase total inexistência de registos impressos das viagens a Roma, tendo-se mantido até agora os manuscritos guardados nas secções de livro antigo das bibliotecas e dos arquivos.
Contudo, estas narrativas, relações, relatos e descrições da viagem romana, são de fundamental importância para a literatura portuguesa, pelo facto de permitirem o desenho do contexto envolvente da viagem, pelas referências a personagens e factos, descrição de rotas e locais, oferecendo com frequência visões amplas da sua época. Esta envolvência torna-se ainda mais importante na época barroca, período em que encontramos o maior número destas narrativas à cidade dos Papas, uma vez que o discurso barroco privilegia aspectos diversos e distintos, optando por um discurso mais atento à descrição de personagens e ambientes, focando a atenção na ostentação e curiosidade artística.
Colocando-nos, então, na época barroca, colocam-se duas questões: por que razão se vai a Roma? Por que se regista a viagem?