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Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! Quem há de dizer ânsias infinitas
Do sonho? E o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? E o asco mudo? E o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
(Olavo Bilac, Inania Verba)
Conferi a data deste artigo. Copiei estes últimos versos do soneto de Olavo Bilac há um ano. Ficou aqui guardado, em preciosa forma de rascunho. Nestes dias, em que sinto que a inspiração não me favorece absolutamente nada, parece-me que esta interrogação se torna ainda mais aguda: como encontrar palavras que digam o que eu calo? Talvez por isso, talvez por ter cada vez mais apurada a consciência da falta de molde, fique quieta, não ousando o que é desconhecido. Falta de vontade ou de coragem? Por vezes não distingo. Por vezes nem a imaginação chega para isso.
Também fiz esta fotografia há já algum tempo. Este mar de luz foi propositado, realçando as teias de aranha e o minúsculo insecto na ponta das folhas de um verde quase fluorescente. Sei como se faz e sei como esta fotografia pode dizer da luz o que as palavras “o sol brilhava e incidia na folha” não podem.
Também sei como a ausência de luz também pode torná-la gritante. Mas isso fica para outro dia.