O António José Coelho é um homem gentil. Está mais habituado a ler o que escrevo do que a ouvir-me… e os meus textos não são gagos. Quando foi o lançamento da Guerra Interior em Viseu, falámos na possibilidade de fazer duas entrevistas. Uma está feita, esta de que indico as ligações.
Estava ansiosa, pois então. E avisei logo a Catarina do trabalho difícil de montagem que teria pela frente! Acho que não foi preciso. A Catarina é uma repórter calma, competente, e estivemos as duas a conversar sossegadamente no claustro do Seminário Maior de Viseu, no edifício que foi a casa da Congregação do Oratório. Estou contente com o resultado, mas rever as duas partes da entrevistas desperta-me sentimentos contraditórios. Raramente tenho a oportunidade de me ver falar. Quando dou aulas e faço conferências consigo ter a noção, sobretudo pelo cansaço, do facto de ter gaguejado muito ou pouco. Já tive más experiências, muito más, que não esqueci. Mas, quando correm razoavelmente, rapidamente me esqueço da apresentação e só me consigo lembrar de quanto gostei de falar sobre essa ou aquela matéria e de como os ouvintes reagiram. Curioso, não é? Nunca me preocupei com a qualidade do texto. Quando chega a hora da apresentação, esse aspecto tem que estar assegurado, e está.
Como dizia, rever a entrevista traz-me impressões ambíguas. Alegro-me com o trabalho feito. Apresentei-o com gosto e segurança. É bom perceber que pode ser lido, comentado e apreciado. Mas detenho-me nos meus lábios e na forma como tropeçam, vejo como as mãos parecem ir mais além, tal como os olhos e a entoação da voz. Pergunto-me a mim mesma e se eu não fosse assim?
Tenho a certeza que sorriste quando leste a minha pergunta mais secreta. Os nossos medos podem ser mais evidentes do que outros. E eu tenho várias guerras interiores, que me atormentam muitas horas, que me vencem e me deixam com um terrível sabor de culpa, mas que também ganho. Não é um movimento definitivo, é verdade. Lembro-me muito de uma personagem do romance No Reino da Babilónia, de Soror Madalena da Glória, monja do convento da Esperança de Lisboa, publicado em Lisboa em 1749, óptima parceria para a Guerra Interior. A protagonista é Angélica, escolhida pelo Imperador do reino para ser mulher do seu filho príncipe. E esta Angélica percorre todo o romance, num constante jogo de desorientação e guerra, solicitada por muitos, mas com a vontade de ser manter fiel ao seu prometido que vela por ela, mesmo quando as sombras são mais espessas. O romance não termina com os desposórios reais, como acontece com todas as outras novelas deste mesmo género alegórico. Percebe-se bem que o Reino da Babilónia nos figura o percurso da alma humana na sua vida terrena e na sua constante luta entre o impulso para a bondade e a satisfação do egoísmo e das partes que são o nosso outro lado da lua. Que não confessamos… que evitamos confrontar… de que não queremos saber. Mas que nos incomodam profundamente por serem “mui compridos de mesquindade”.
A Guerra interior, de Matias de Andrade, é um texto actual, pese embora a abundante matéria teológica que não atrai o leitor comum, e a referenciação constante das fontes , a mostrar a necessidade de abonar as afirmações. Conhece-te a ti mesmo, é a primeira lição. Tão antiga, não é? Vence-te a ti mesmo, é a segunda lição. Parece tão óbvia, eu sei. Fica em paz contigo, acrescentaria eu. Conhecer, vencer, pacificar. E aceita o que não podes mudar, e coloca a tua felicidade quotidiana no que te rodeia. Com tudo o que isso implica.
Dou-me conta que o tratado espiritual do nosso padre oratiano podia ter sido um bestseller do seu tempo. Tem tudo para o ser nos nossos tempos. Mas suponho que já não tenha leitores à altura do seu universo. Pode ser que esteja enganada.
Como o meu coração te compreende!!!!E como ELE nos compreende!!!!De bom grado daria parte de mim..!!!!….Beijinhos querida.
Como fazemos sempre uns pelos outros, mamã. Por que será? Já te interrogaste sobre isso? Por que razão tens nove filhos assim? Porque aprenderam em algum lado. Abraço.
Bom dia, após tudo que li e ouvi, os meus parabéns, aos três, à Catarina, que como sempre, faz muito bem o seu trabalho, ao António José Coelho, pela mão amiga estendida com sucesso à protagonista, Sara Augusto.
Ser gago, não é defeito, é mesmo feitio, num momento que se fala em vários tipos de inclusão, nunca se atreva em pensar que a nossa sociedade não pode suportar esse seu “feitio”. Muito obrigado pelo livro e novamente parabéns.
Muito obrigada. Um abraço.