Luz opaca onde as asas se ferem
e o voo fica suspenso.
Ana de Santa Cruz, Fábulas
Octávio Paz, em 1973, no texto La mirada anterior, Prólogo a Las enseñanzas de Don Juan, de Carlos Castaneda, a propósito de uma curiosa citação de Michaux sobre o receio da “demasiada” publicação das suas obras, afirma: “Es difícil no simpatizar com Michaux; más vale ser desconocido que mal conocido. La mucha luz es como la mucha sombra: no deja ver”.
A última parte da citação aparece sozinha a maior parte das vezes e, por isso, perde a ligação com o contexto em que foi pronunciada e ganha outros sentidos. E foi noutro sentido que também a li: “La mucha luz es como la mucha sombra: no deja ver”…
Esta fotografia foi feita nos jardins do Palácio de Cristal, num dia de uma luz enevoada que me feria os olhos e me deixou exausta. Quando abri o ficheiro, algum tempo depois, senti a mesma luz e cerrei os olhos novamente. Mas ela, a gaivota, abriu as asas, suspensa na paisagem, corpo de sombras, olhos de luz.