Os teus olhos são os meus olhos, como casas caiadas de fresco, lavadas da poalha dourada sobre o rio. O teu coração aquece-me a lembrança de tanto verde e azul e as rochas batidas do sol e das giestas são o teu corpo em que me deito e sacio de todas as horas em que não existes.
Amar-te-ia em todas as idades, sabes? Porque os teus olhos são os meus olhos, a porta para o meu mundo onde chove e faz sol na altura em que o meu corpo pede chuva e na altura em que caminho na areia quando a maré fica vazia e há conchas que contam viagens, as minhas e as tuas.
No final do dia, quando levantas os olhos ao cimo do monte… pensas em mim, e não importa o mar, nem o rio, nem o monte. E, se fechares um pouco os olhos, verás o rasgo das nuvens e a franja de luz na paisagem…
E, nesse momento, os meus olhos são os teus olhos, feitos de névoa sobre as águas do rio. O meu coração acorda-te a memória das palavras, uma a uma, e que podiam ser de qualquer cor, mas são rubras, e tocam o teu corpo com gestos antigos, e o branco daquelas pontes é o linho fino com que me sonhas no teu mundo.
No final do dia, quando levantas os olhos ao cimo do monte… pensas em mim, e não importa o mar, nem o rio, nem o monte, nem o mundo. E, se fechares um pouco os olhos, verás que o vale é o rio iluminado a oriente. E, sabes? Hás de sentir a força do leme, o vento nas velas e a madeira quente onde ficou o sabor da nossa pele e a cor da seda.
© Sara Augusto, 2016, Caramulo.
Querida Sara, arrepiei até à pontinha dos cabelos! E estou de olhos mais que brilhantes! Tu és maravilhosa e os teus textos são fabulosos e as tuas fotografias são emocionantes… e tudo…
Deixas-me sem palavras, Helena. Obrigada.