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Dos confins da vigília.

Como gostarias de te lembrar de mim?
Dizes-me que voltaste
Dizes-me que não me esperavas
Digo-te
Apenas
Que permaneço intocável
Ao sabor da leitura que foi nossa
Descoso-me com os cuidados de uma [costureira minuciosa
Mesmo sabendo que não me esperaste
Atravessei-te
Sem sair de cá
Atravessei-te
Como se atravessa um hemisfério
Perfurei-te como perfura uma lança
Esperando que pelo sangue te fosses
E quase me esqueci
De que és uma daquelas marcas que deixam [as doenças
E dizes-me que não me esperavas
Que agora me esperas
E eu desdobro-te e prolongo-te
E nas imensas entrelinhas
Digo-te
Que estou
E pergunto-te
Como gostarias de te lembrar de mim?
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A Ana Carolina tem uma figura frágil. Contudo, só a figura é frágil, tudo o resto é poderoso. Releio o livro com o estranho nome em turco, Uykusuz Venüs . Detenho-me aqui e ali, sigo, volto a parar, volto a ler, anoto. Escolhi um dos meus poemas preferidos, o mesmo que Abílio Hernandez leu na apresentação do livro em Coimbra, na Almedina.
Uma escrita forte, de formas marcadas, desenhadas na página, para ser lida e ouvida.