***
Às vezes dura menos de um segundo aquele olhar sobre as coisas. O segundo olhar é mais demorado… calcula, avalia, ensaia e deleita-se. Sei que vou conseguir uma fotografia que me agrada quando sinto esse deleite dentro de mim. É assim como um contentamento antecipado de uma coisa boa, de um acontecimento esperado, uma espera por alguém que ansiamos ver. É esse olhar que faz a fotografia. O resto é um pouco mais técnico…
O deleite é ainda maior quanto mais improvável é o lugar e a circunstância. É isso que me faz sorrir enquanto escrevo e vejo agora a fotografia à minha frente. O calor que parece incendiar as ervas aquece-me. Inclinadas e batidas pelo vento leve, oscilam também dentro de mim. As nuvens que riscam o céu de uma forma impressionista calam-me. O candeeiro que se perdeu ali no meio comove-me.
Não vejo o sol. Mas consegues ignorá-lo? Aquele sol doirado do fim do dia invadiu a fotografia. Não está lá e está em todo o lado. Não há volta a dar-lhe. Soube que amava o homem perfeito quando ele disse do amor por mim exactamente o mesmo. Mas os dias sucedem-se e nessa mudança são constantes. Já do amor não digo o mesmo. Brilha e apaga-se.