Por que é que um manuscrito datado de 1532 é copiado dois séculos depois, no correr do século XVII ou nos inícios do século XVIII? Quem foi este viajante que, saindo de Lisboa, visitou as principais cortes da Europa, onde viviam princesas de Portugal, como D. Beatriz, como D. Isabel, mulher do poderoso Carlos V? Quem era este homem, sacerdote, capaz de descrever uma cidade, apreciar a abundância, a beleza das catedrais e dos palácios, de se inclinar perante as relíquias das Onze mil virgens, mas também de comentar a qualidade do ensino, das universidades, das livrarias? Quem era ele? Por que razão foi a Roma e acompanhou o embaixador D. Martinho de Portugal na viagem de duas semanas a Veneza?
Estávamos no reinado de D. João III e no Pontificado de Clemente VII, um reinado complicado, entre o florescimento cultural e a Inquisição, um pontificado que levou ao Saque de Roma e ao cisma da Igreja Católica. Que motivos levaram o viajante a Roma, uma viagem que demorou dois anos e meio, com pelo menos seis meses de viagem, atravessando todo o sul da Europa, suportando as neves dos Alpes e todos os contratempos da falta de conforto? Religiosos? Diplomáticos? Uma vez que o texto não apresenta soluções resta-nos imaginar e ler a magnífica viagem do «padre de 1532».
Hoje, no Auditório da Reitoria, na Universidade de Coimbra, no âmbito do Colóquio Narrativas da Paisagem, o olhar da Geografia, do Cinema e da Literatura, vou falar sobre esta viagem, sob um título bem genérico: «Memórias de Roma: peregrinatio e mirabilia». Não vou desvendar segredos, com muita pena minha. Mas vou mostrar como os manuscritos mantêm todos os seus segredos e os guardam a sete chaves.
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