Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio da planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz, Você está a tresvariar, tudo quanto menciona está ligado entre si, aí não há nenhuma solidão, Deixemos a árvore, olhe para dentro de si e veja a solidão, Como disse o outro, solitário andar por entre a gente, Pior do que isso, solitário estar onde nem nós próprios estamos…
J. Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, Círculo de Leitores, 1999, 236
Sempre vivi só, mas muito poucas vezes senti a solidão. Entre mim e o mundo há um rio de espanto.
© Sara Augusto, 2016, Serra da Estrela