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Nolite ergo soliciti esse in crastinum. Crastinus enim dies solicitus erit sibi ipsi: sufficit diei malitia sua.
Mateus, VI. 34
Parei aqui. São Mateus faz-me destas coisas: obriga-me a repetir e a repetir as leituras e a voltar mais tarde. São coisas tão simples da vida que reconheço subitamente e que me deixam sem fôlego com a forma poética e definitiva como são ditas.
E quando os dias são pesados e as noites mais ainda, há neste apelo sentido todo um programa de vida: não queiras preocupar-te com o que ainda não aconteceu, com o que está no amanhã, com o que apenas existe ainda na tua imaginação, na tua ansiedade, nos teus medos ou nas tuas esperanças.
Mas o mais fundo, que me deixou pregada na cadeira, com os olhos fixos, tentando entender tudo o que ali estava escrito, do modo mais simples, foi aquela certeza de que o dia de amanhã cuidará de si mesmo. As preocupações de amanhã não são para hoje; amanhã saberás, amanhã resolverás, pois já bastam a cada dia os seus cuidados. Não acrescentes o que não é para acrescentar.
E tudo isto me levou a esta fotografia, uma das minhas preferidas. Já fotografei dentes de leão algumas vezes (aqui) e a simbologia de uma flor que se desfaz com o sopro não podia escapar à minha mundividência barroca. Parece o emblema perfeito da inquietação e da efemeridade.
Mas esta fotografia prende-me. A flor está inteira mas já não está completamente. As partes soltam-se e ficam quietas, suspensas no tempo e no espaço. A fotografia interrompeu o processo de desagregação, mas a flor ficará num eterno desassossego. E era tão fácil passar à metáfora… mas hoje não, por hoje basta.
Esta é, de facto, uma fotografia emocionante, Sara! Extraordinariamente simples e complexa!
A metáfora está feita!
Extraordinariamente bem … feita!
Helena, sempre atenta… obrigada!
Eu agradeço, Sara! Isto é mesmo egoísmo! Tu ftografas e escreves com saber e inteligência mas isso outros fazem! O que tu fazes com isso é que é diferente. É com paixão, emoção, intensidade, inquietação… E tens a enorme capacidade de me emocionares profundamente! E eu gosto da emoção. Obrigada por seres e fazeres assim!
Sempre achei que essa era a minha fraqueza, Helena… demasiada emoção que me tira lucidez e me torna frágil. Agora dizes que isso me torna eu mesma e, por isso, diferente… talvez tenha de acreditar mais nisso. Obrigada pelas tuas palavras!
A diferença é a tua força e beleza. Tu tocas e fica melhor!
Apetece-me sempre dizer-te isto, nem sei bem porquê: “Vai, Sara, vai sem medo!” E não acho que tenhas medo do mundo… Talvez de ti! Um abraço mesmo apertadinho.