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Um fim de semana de outono de sol intenso e calor. E com a pior dor de cabeça dos últimos meses. Passei o tempo na sombra do quarto, a fugir do barulho e da luz. Fui tomada por um sono intermitente que me embrulhou em sonhos labirínticos e suores frios. Acordava com a pulsação acelerada, os olhos secos, e aquela dor a latejar sobre o lado direito e a nuca. E voltava a adormecer. E a acordar. Cada vez mais ansiosa, a pensar no artigo para acabar e num possível suicídio no Loch Ness no final de novembro.
Acordei melhor pelo meio da tarde. Vi uma borboleta no quintal e peguei na máquina. Já tinha voado para longe quando lá cheguei. Continuo a gostar mais de fotografar coisas quietas do que seres alados irrequietos. Comi os últimos figos maduros e abracei a velha oliveira. Este ano tem azeitonas, reparei, e voltei a abraçar o tronco rugoso e com cheiro de chuva. Fotografei-as e voltei para casa com os olhos quase cerrados. E voltou a doer, tanto.
Mas as fotografias ficaram para lembrar o sol doloroso deste domingo de outono.