Hoje sei que o sentido dramático é o que me prende a atenção no barroco. Essa constante representação, que atinge toda a arte e a literatura, é capaz de dar a ver um perpétuo movimento numa veste ondulante, numa metáfora, num verso, numa voluta desenhada na pedra.
Da mesma forma, essa figuração de lampejos de santidade, servindo de persuasão e manual de doutrina para os acompanhantes, marcou as grandes e as pequenas procissões religiosas, sobretudo após o Concílio de Trento. As procissões barrocas traziam para as ruas da cidade e do campo o esplendor dos espaços interiores. Cada andar representava uma micro hagiografia, com os adereços necessários à identificação do santos, podendo incluir também um cenário onde se incluía a figura.
Sempre me deixaram surpreendida estas figuras de roca. Lembro-me de parar junto às capelas onde se venera a Santa Cruz, levada por uma figura sofrida de Cristo, vergado pelo peso e pelo sangue da coroa de espinhos. A roupa pendia, solta, no corpo magro. São de madeira, articuladas para colocar no cenário, vestidas para os dias santos e de celebração. Já não vão em cima dos andores, já estão arrumadas em museus, em igrejas mais antigas, escondendo a sua facies marcada pela dor, pelo sofrimento, manchada de sangue e lágrimas.
Estas foram fotografadas no Museu de S. Roque, em Lisboa. O mesmo museu onde se inaugura esta sexta-feira, dia 27, pelas 18h, a exposição A encomenda prodigiosa: da Patriarcal à Capela Real de São João Batista, segundo núcleo de uma exposição maior com o Museu Nacional de Arte Antiga.
Nota: curiosamente o artigo da wikipédia não está mau. Verifiquem a ligação ao Portal da Arte.
Muito fixe 😀
O texto da wikipédia esta referenciado em uma grande pesquisadora da história da arte luso-brasileira.