Uma das coisas que me apaixona na fotografia, como na escrita (e na pintura, no cinema, soubesse eu desenhar o que quer que fosse, escrever um guião ou usar o vídeo da câmera fotográfica), é a possibilidade de criar mundos diferentes. Os caminhos e os cantos do quintal costumam oferecer-me “pequenos mundos” a que o zoom dá uma nova dimensão. Costumo imaginar-me dentro deles, jardins fechados de formas e cores que revelam pormenores estranhos e detalhes quase invisíveis a mais de um metro e meio de distância.
Mas não é o caso destas fotografias. Foram tiradas por acaso. Parei para fotografar as linhas direitas de uma ponte sobre o Mondego, fotografias que apaguei e nunca cheguei a usar para absolutamente nada. Há objectivas que não fazem milagres, pelos menos todos os milagres, paciência. Tinha andado uns bons metros a pé, quase junto à margem do rio. Quando voltava para trás, reparei nas sombras sobre a água, quase um espelho. Quando abri as fotografias no LR, acentuei o azul e, de repente, perdi um pouco a noção da realidade fotografada.
O que estava errado? Nada. Apenas um rio que parecia um céu, na luz clara do meio-dia, as árvores brancas e despidas do início do inverno, e a perspectiva da projecção das sombras estava invertida. Uma sombra projectada sobre o céu? Um cenário? Gosto destes mundos estranhos oferecidos por um ângulo diferente e pelo contraste das cores. Os mundos estranhos onde vive a imaginação e onde me perco por muito tempo.