Como não te adorar, se só tu és adorável? Como não te amar se só tu és digna do amor?
Livro do Desassossego
You are a lover. Borrow Cupid’s wings
and soar with them above a common bound.
Shakespeare, Romeo and Juliet
A sala estava decorada com máscaras e cupidos que seguravam grandes corações vermelhos. Quando ele disse aos outros este é meu, ninguém discutiu e com a bengala conseguiu apanhar o fio que segurava o cupido e puxá-lo para baixo. Olhou à volta e procurou-a. Parecia-lhe que o coração que o cupido segurava batia ao mesmo ritmo furioso do seu. Parecia também que o coração lhe batia nos olhos, porque não distinguia entre as sombras a luz que desde alguns dias o iluminava, e lhe latejava na boca, porque se sentia incapaz de articular qualquer frase com sentido e mantinha um sorriso que não conseguia apagar. Gosto de ti, princesinha. E procurou-a, guardando o cupido e o coração, desenhados em esferovite e já com os cantos quebrados, procurou pela face miúda de pele branca e macia, pelos lábios rosados, pelos olhos meios de água, pelos cabelos castanhos que cheiravam bem e que ele tocara, deixando a mão passar levemente pelo colo de corça assustada.
Onde estás, andorinha? Enquanto procurava lembrou-se das escadas e das ruas estreitas, descidas de mão dada, e como ele gostava de guardar a mão dela tão pequena na sua, das horas sentados junto do rio, quando os olhos dela ganhavam as cores prateadas da água, e com voz quase desmaiada e olhos rasos lhe recitava os desassossegos do livro de cabeceira e do dia a dia.
Adivinhou-lhe o corpo na figura esguia junto das grades, olhando para as luzes que eram ensaiadas no palco, o cabelo entrançado, a corrente de prata sobre o peito. As mãos estenderam-se, ela segurou o coração e sorriu de leve. Encostou a face no peito dele e ficou quieta. Podia ser que o tempo parasse.
Adorei Sara,uma maravilha.
Eu sabia que ias gostar, Anabela! Abraço enorme!
Sou a menina da Fotografia.
O texto tá magnífico. Muito bem escolhido.
Desta vez o texto partiu da fotografia, Raquel. Obrigada por teres vindo. Abraço enorme.
já agora, foi a única fotografia que tirou nossa? Se nao, gostaria de ter acesso a todas 🙂
Querida Raquel, esta era a melhor. Costumo apagar as que não edito, mas vou verificar. Obrigada por me teres deixado tão comovida, por ter podido fotografar-te e escrever sobre o que me fizeram sentir. Fico muito contente por teres gostado. Boa sorte, toda a sorte para ti, para os dois.
Fico igualmente agradrecida e a aguardar o seu contacto.
Texto magnífico. Não podia estar melhor enquadrado com a fotografia. Já tinha dito que acho que a fotografia está muito boa, mas agora com o texto em especial com a parte final ficou mesmo excelente. Parabéns.
Rui Pedro, obrigada pelo comentário, mesmo. Um abraço!