Prova de fogo

Quem perceber mais do assunto dirá se tenho razão ou não. Acho que a forma como aprendemos e começamos a fotografar deixa marcas que se prolongam no tempo. Na segunda aula do curso de fotografia fiquei a saber que na semana seguinte podia ter credenciais para fotografar todos os concertos da latada. Como não me posso dar ao luxo de não dormir sete dias seguidos, fui só a um, o concerto de Cosmo Klein e Tim Royko.

Foi muito divertido. O ritual das credenciais, uma canon só para mim, ainda sem acertar com os botões… havia uma regra: regular manualmente a velocidade e a abertura e o iso. Foi um baptismo de fogo… duas horas seguidas a fotografar, quase seiscentas fotografias, sem ângulos de visão, com mãos, cabeças e palco à minha frente, sempre em bicos de pés ou empoleirada nas grades. Acompanhei a conferência de imprensa, habituei-me às luzes inconstantes do palco, vinte minutos para fotografar à frente, depois no recinto o resto do tempo. Tirei fotografias a velocidades impossíveis e muito poucas escaparam a um escrutínio rápido! Apaga, apaga, apaga, talvez essa, apaga, apaga, será que nem uma se aproveita? apaga, apaga, olha esta! gira, apaga, apaga… e fui apagando, e apagando… com uma secreta mágoa. No dia seguinte doía-me o corpo todo.

Já foi há algum tempo e tinha-me esquecido dessas experiências no disco externo. Foram as fotografias publicadas no Arrecadação que me fizeram lembrar e ir buscá-las, e voltar a escolher, agora com outros olhos e com um sorriso. Gosto delas. Gosto das cores. Diverti-me… e nunca mais deixei de fotografar em manual. O que, em algumas circunstâncias, é uma valente estupidez.

5 opiniões sobre “Prova de fogo

    1. Sabe que eu também gostei! Mas tenha em conta que foram as melhoras de algumas centenas. 🙂 um fotógrafo não precisaria de fazer tantas! Um abraço, meu amigo.

  1. Como eu percebo o que isso é…
    Pena-se (e muito) em concertos, sobretudo se se está no meio da multidão… Mas se estamos na zona de credenciais, brutal, temos todo o espaço do mundo (quando os fotógrafos se respeitam mutuamente).

    É muito bom fotografar espectáculos! 🙂

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