Que vales, riqueza? Vales uma alma? Não, que a condenas. Vales uma vida? Não, que a arriscas. Vales um sossego? Não, que o destróis. Vales um alívio? Não, que és peso. Vales um descanso? Não, que és cuidado. Vales uma respiração? Não, que és afogo. Arriscas a vida de quem te busca; condenas a alma de quem te guarda; destróis o sossego de quem te conserva; fazes do sono cuidado, do alívio carga, da respiração receio… e és tesouro? Adonde pois está o teu valor, que se o achou a estimação, eu não o descubro na realidade. Contigo poderá o homem comprar mais mundo; porém não poderá o homem comprar mais vida.
Soror Maria do Céu. Enganos do Bosque, Desenganos do Rio. 1741: 84-85.
Este “escarmento” da riqueza continua a impressionar-me. Não sei se me comova mais com o fundo se com a forma tão caracteristicamente barroca.
Muito profundo este texto de admiráveis considerações sobre a riqueza…
riqueza de pensamento que me deixa em demorada reflexão.
Os textos espirituais da época barroca abordam o tema da morte de uma forma extremamente retórica. E com uma beleza fulgurante conseguida com o sortilégio dos efeitos de estilo e sobretudo da metáfora. Resta-nos aproveitar. Fico feliz por ter gostado! Tenho trabalhado a literatura barroca nos últimos 20 anos… e partilharei mais então.