Poesia nova

No contexto do romantismo brasileiro, As Cartas sobre a Confederação dos Tamoios (1956) desenham o projeto de José de Alencar relativo a uma «poesia nacional» e a uma «poesia nova». Na segunda carta, datada de 22 de Junho, afirma:

Escreveríamos um poema, mas não um poema épico; um verdadeiro poema nacional, onde tudo fosse novo, desde o pensamento até a forma, desde a imagem até o verso. (Ed. Almedina, 1994, 170)

Acontece-me com frequência durante as aulas estabelecer relações mais evidentes entre aspetos que já considerei. Desta vez, quando li «poesia nova» e «nacional», não deixei de remeter novamente para o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de Oswald de Andrade (Correio da Manhã, 1924), e para Maurício Gomes e o poema Exortação (1958).
Os «verdes mares bravios», o «ocre das favelas» e as «anharas infindáveis» cruzaram-se no meu pensamento por alguns segundos. A bibliografia sobre a matéria estabelece rápidas relações entre o Manifesto e Exortação. Parece-me mais direta a relação da Exortação com as Cartas de Alencar. Já sei que vou continuar a pensar sobre isto.

(…)
Mas onde estão os filhos de Angola,
se os não oiço cantar e exaltar
tanta beleza e tanta tristeza,
tanta dor e tanta ânsia
desta terra e desta gente?

Essa nova poesia, forte, terna, nova e bela,
amálgama de lágrimas e sangue,
sublimação de muito sofrimento,
afirmação duma certeza.
(…)
Poesia nossa, única, inconfundível,
diferente,
quente, que lembre o nosso sol,
suave, lembrando nosso luar…
que cheire o cheiro do mato,
tenha as cores do nosso céu.
(…)

Maurício Gomes, Exortação

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